terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O poder da razão não é segredo


Por Dr. Hélio Borges – CRM/PR 16.914 Médico psiquiatra (www.drhelioborges.med.br)


De certo que uma atitude positiva, boa auto-estima e fé nas possibilidades são importantes ingredientes para o sucesso na vida. Nem tanto porque o otimismo tenha algum poder mágico per si, mas sim porque o pessimismo em essência produz a imobilidade e a entrega, condições nas quais raramente alguma vitória advém.

Mas abusar do otimismo é tão danoso quanto o pessimismo pode ser. Em uma época em que fórmulas triunfalistas trazem lucros para seus criadores e uma tola euforia para seus seguidores, tais promessas milagrosas merecem questionamento.

Do jeito que tem sido alardeado, parece que a vida é uma competição entre quem tem a “mente mais positiva”. Que basta usar “poderes mentais” para sermos capazes de interferir na vida alheia, mudar as coisas sempre a nosso favor e que há sucesso sem esforço. Quanta falta de juízo! Combater a dureza da vida e a crueza do mundo, e nutrir um alienante “complexo de super –herói”. Não é segredo que um exacerbado otimismo econômico gerou a atual recessão internacional. Faltou sensatez.

Num mundo com tantos problemas e desafios, precisamos de alegria e confiança, mas antes de tudo precisamos de racionalidade. Esta ninguém parece incentivar. Afinal, com ela, tornamo-nos independentes e capazes de encontrar nossas próprias fórmulas e desvestir líderes e gurus de sua pretendida importância.

Ser racional não é ser frio ou sem paixão. É ter crítica sem ser injustamente crítico. É ter discernimento e não mera pretensão intelectual. É cultivar prudência sem envolver-se pela reticência. É cultivar fé sem ser fanático. É não confundir seus intensos desejos com pretenso merecimento ou parcialidade assegurada pelos céus.

Aquele que abusa do otimismo flerta com a imprudência, a negligência e a pretensão e acaba por parecer aos olhos de seus pares como arrogante e presunçoso. Conquista inimizades quando acredita estar sendo o mais cotado; rejeição ao se achar o mais cobiçado. É incapaz de admitir sua culpa em um eventual fracasso. Acaba por viver derrotas imprevistas ao se embriagar pelo próprio triunfo.

Quem não usa a racionalidade ou se pauta pelo bom senso é incapaz de lidar com os reveses da vida. Tão habituado a ganhar, fica desnorteado quando o assunto é aceitar perder ou no mínimo rumar em outra direção. Nessas horas, demonstra falta de flexibilidade e capacidade de adaptação às contingências inesperadas.

Otimismo funciona quando se apóia na experiência de vida e esta acresce qualidade ao vivermos frustrações. Portanto, não queira que todos os seus belos sonhos se realizem. Uma parte deles com certeza, mas é fundamental que aqueles que não derem certo sirvam de forja para seu caráter e lucidez para seus propósitos. Se tudo parecer sempre fácil, a boçalidade governará a sua vida.

Fonte: Revista Mídia & Saúde - versão impressa. Publicação mensal. Janeiro de 2009.

Postagem: Cris, PUC, Direito, 3o B

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